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Transtorno de Estresse Pós-Traumático: As Marcas de Situações Ameaçadoras

Esequias Caetano – CRP 04/35023
Especialista em Psicologia Clínica/ TCR
ecaetano@institutocrescer.com
O último dia nove de dezembro começou de forma aterrorizante em Patos de Minas. Pela primeira vez na história do município, um grupo de criminosos fez reféns durante um assalto, mantendo sete pessoas como prisioneiras no interior de uma das mais importantes relojoarias da cidade por cerca de quatro horas. Neste período a Polícia Militar negociava a liberação das vítimas, tentando, ao mesmo tempo, evitar o quanto fosse possível a elevação do nível de estresse da situação. Se a tensão aumentasse, as consequências poderiam ser desastrosas. 
Foto: Reprodução
Os patenses assistiam com perplexidade aquelas cenas. O jornalista Maurício Rocha, repórter da NTV e do site Patos Hoje, corajosamente contribuiu com as negociações quando os criminosos exigiram a presença da imprensa. Eles haviam garantido que libertariam as vítimas se um representante da mídia estivesse lá, mas não cumpriram o combinado. Isso aumentou ainda mais a insegurança dos familiares que acompanhavam do lado de fora. As vítimas, do lado de dentro, continuavam na mira dos criminosos. É impossível saber o impacto que a situação teve sobre aquelas pessoas sem uma análise minuciosa de cada uma delas. A despeito disso, o que viveram é grave e potencialmente danoso, a ponto de ser comparado a experiências de guerra.
Diversas pesquisas em Psicologia mostram que cerca de três em cada dez pessoas que passam por situações fortemente ameaçadoras desenvolvem o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) – um transtorno que apesar de pouco citado na mídia, é considerado um dos mais graves e o terceiro transtorno de ansiedade mais comum na população em geral. 
De acordo com Sandra Calais, doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e Coordenadora do Centro de Psicologia Aplicada da UNESP-Bauru, onde orienta pesquisas de mestrado sobre o TEPT, o transtorno é caracterizado por uma reação de estresse a um evento traumático, excepcionalmente ameaçador e sobre o qual não se tem controle. Isso significa que ele pode atingir não apenas aqueles que passam por situações como as descritas acima, mas qualquer um que enfrente uma situação extrema e incontrolável, como catástrofes naturais, abuso sexual, violência urbana, terrorismo, sequestro, acidentes ou outras vivências com estas características.
As reações típicas do Transtorno de Estresse Pós-Traumático podem começar a aparecer desde o momento da experiência a até um mês após sua ocorrência e podem perdurar por toda a vida. A exemplo disso, pesquisadores americanos encontraram sintomas do problema em veteranos da Segunda Guerra Mundial após 40 anos do encerramento do conflito. Em geral estes sintomas podem ser divididos em três categorias: 
– Revivência do Trauma: marcada por pesadelos, lembranças e pensamentos invasivos sobre o evento, sofrimento psicológico intenso diante de qualquer coisa que lembre a situação e, em casos mais graves, sentimentos e atitudes como se a experiência estivesse acontecendo naquele momento;
– Esquiva: caracterizada pela evitação de pensar, sentir ou conversar sobre o trauma, evitar atividades ou locais que o lembrem, sentimento de futuro abreviado, incapacidade de recordar aspectos importantes da situação, redução do interesse ou participação em atividades que antes eram consideradas significativas, capacidade reduzida de sentir emoções e sensação de afastamento em relação às outras pessoas;
– Excitabilidade: engloba surtos de raiva, dificuldades para iniciar ou manter o sono, hipervigilância e dificuldades de concentração.
Calais explica que quando a situação estressante vai de encontro à visão de mundo da vítima o trauma pode ser ainda maior. “O evento traumático é um caos na vida do indivíduo e não faz sentido para ele. Seus comportamentos não mais são adequados às mudanças que ocorreram no ambiente externo e não há possibilidade de comportamento de esquiva”, diz. É como se tudo aquilo em que a pessoa acredita viesse abaixo de uma só vez e tudo o que ela sabe sobre o mundo fosse insuficiente para evitar a catástrofe, o que a deixa em completo desamparo. 
Além da visão de mundo, a pesquisadora aponta – com base em estudos sobre o tema – diversos outros fatores que contribuem para a instalação do TEPT ou para uma maior gravidade. São eles: 
– Ser mulher;
– Ter sofrido traumas anteriores;
– Sofrer reação aguda ao estresse logo após a experiência traumática;
– História psiquiátrica prévia (Ansiedade, Depressão, etc.); 
– Se esquivar de pensar ou falar sobre o problema; 
– Evitar contato social após o problema;
– Idade na época do trauma – pessoas mais jovens são mais propensas;
– Baixa escolaridade; 
– Histórico psiquiátrico na família; 
É importante salientar que não apenas as vítimas diretas do evento traumático podem desenvolver o transtorno. Familiares, amigos ou outras pessoas de convivência próxima também estão sujeitas. São as chamadas Vitimas Secundárias e, de forma semelhante às Vítimas Primárias, os fatores acima também as tornam mais ou menos vulneráveis ao TEPT. 
Uma vez desenvolvido o transtorno, é essencial buscar tratamento. Existem casos de remissão espontânea dos sintomas – especialmente quando a vítima consegue falar sobre o ocorrido e não deixa de fazer aquilo que normalmente faz em seu dia a dia, mas nos casos em que o problema persiste, as chances dele se agravar com o tempo são grandes. É indispensável, ainda, que o tratamento seja feito com um Psiquiatra e um Psicólogo que possuam experiência no tratamento dos Transtornos de Ansiedade. O TEPT requer cuidados especiais para que se evite a potencialização dos sintomas.

MATERIAL CONSULTADO E SUGESTÃO DE LEITURA

CALAIS, Sandra Leal. Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). In: GUILHERDI, H. J. e Cols (Org.). Sobre Comportamento e Cognição: Contribuições para a Construção da Teoria do Comportamento. Sandro André, SP. Ed. Esetec, 2002. p. 345 – 357

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