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Stress nas Organizações

Luciano Carneiro
Universidade Estadual de Londrina
Instituto Innove – Análise do Comportamento e Saúde 
Há algumas décadas, o stress tem sido objeto de estudos, pesquisas e considerações nas áreas da saúde devido às implicações sobre o indivíduo em condição de stress prolongado e intenso. O crescente interesse em entender o stress e as melhores formas de tratá-lo também se deve, possivelmente, ao aumento do número de pessoas que relatam estar sob o efeito dessa condição e apresentam tanto reações orgânicas quanto comportamentais, entendidas como desagradáveis ou indesejáveis. 
Um dos contextos impactados pelos efeitos do stress e que merece atenção dos profissionais da saúde é o ambiente organizacional, uma vez que ele pode funcionar, ao mesmo tempo, como uma fonte de stress e também como o palco onde os efeitos dele aparecem. Alguns pesquisadores entendem que o ambiente de trabalho é o que mais contribui para o desenvolvimento de problemas de saúde física e mental.


Embora o stress não venha de uma única situação, sua principal fonte são os momentos de grande mudança organizacional, como por exemplo, mudança de gestores, alteração do foco de trabalho, modificações no sistema de gestão geral da empresa, crises financeiras, etc. Outras situações mais cotidianas podem também ter efeito estressor sobre administradores e colaboradores, como a exigência de resultados em curtos prazos ou a necessidade frequente de resoluções de problemas que não dependem apenas do executor, mas também da ação de outros sistemas (internos ou externos). 
Implicações organizacionais e familiares 
Além das reações corporais típicas do stress, ficam evidenciados problemas comportamentais, uma vez que o organismo está submetido a situações novas que exigem respostas que podem não fazer parte do repertório comportamental até ali desenvolvido, sinalizando os excessos e/ou déficits comportamentais. 
Alguns dos excessos comportamentais que podem indicar que uma pessoa está exposta a situações estressoras estão são o aumento do uso de cigarros para aliviar a tensão, ingestão de álcool para relaxar ou dormir (já que a insônia se torna mais frequente), abuso de drogas e comportamento agressivo. Já alguns dos déficits comportamentais verificados, são as quedas na produtividade, a desatenção e a falta de foco nas atividades. Esses padrões comportamentais, quando passam a ocorrer, entram em um círculo vicioso, acentuando os efeitos do stress e gerando maior prejuízo para o próprio indivíduo e para a organização – aumentando, por exemplo, os problemas de saúde e consequentemente o absenteísmo (faltas e atrasos dos funcionários). 
As condições estressantes geradas pelo ambiente organizacional frequentemente têm implicações na vida familiar do colaborador. Os comportamentos de risco já citados, os excessos comportamentais ou mesmo os déficits, interferem diretamente na qualidade das relações interpessoais, tanto no trabalho, quanto em casa. A participação do colaborador sob stress nas atividades e decisões domésticas fica prejudicada e cria as condições para o aparecimento de discussões e conflitos – o que, mais uma vez, alimenta os efeitos do stress. 
Estratégias de manejo 
Embora apenas os aspectos negativos do stress sejam destacados ao falar sobre o tema, ele possui aspectos positivos importantes que devem ser considerados. O modelo quadrifásico do stress revela que a primeira fase, conhecida como fase de alerta, é essencial para o engajamento nas atividades de forma produtiva e criativa. Nessa fase, o cuidado deve ser de não permanecer por muito tempo nela, buscando recobrar a homeostase rompida. 
Quando o stress alcança as demais fases (resistência, quase-exaustão e exaustão) é necessário manejá-lo de forma a reduzir seus aspectos negativos. Algumas estratégias podem ser usadas de forma preventiva, para evitar que o stress alcance níveis elevados, ou de forma “paliativa”, quando seus efeitos já estão presentes. 
Estratégias pessoais 
Investir em cuidados como alimentação balanceada e nutritiva, prática regular de exercícios físicos adequados em intensidade e frequência, reserva de um tempo para relaxamento e para lazer podem contribuir para o bem estar pessoal. Atentar-se para a organização, relacionando atividades e estabelecendo prazos também pode trazer benefícios. Além disso, investir em autoconhecimento também é importante, porque permite a pessoa identificar quais condições mais frequentemente desencadeiam estresse e quais são os seus limites, além de mostrar que estratégias podem ser mais úteis no manejá-lo e como lidar com conflitos decorrentes dele. Estas estratégias contribuem também para a ampliação do repertório comportamental para lidar com situações inesperadas – o que é bastante relevante para evitar ou amenizar os efeitos do stress. 
Estratégias organizacionais 
Algumas mudanças organizacionais são repentinas e exigem maior capacidade de adaptação dos envolvidos. Outras, porém, são planejadas. Quando estas acontecem, é importante atentar-se para o preparo dos colaboradores por meio de treinamentos, considerando o procedimento descrito pela Análise do Comportamento conhecido como modelagem, que valoriza pequenos passos em direção a um objetivo ou comportamento final. 
Somado a isso, quando se exige de um colaborador um desempenho até então inesperado, a prática do feedback pode contribuir para nortear sua ação, deixando-o consciente do que é esperado e também dos resultados já alcançados, gerando condições para que sentimentos de reconhecimento e pertencimento ocorram, e também contribuindo para o autoconhecimento do colaborador que, como já mencionado, melhora seu desempenho nas atividades e ameniza os sintomas do stress. 
Atentar-se para a comunicação também pode contribuir. Deixar claro para a equipe qual é o fim esperado e ouvir as dificuldades que cada um tem enfrentado no processo de mudança, permite que os objetivos e procedimentos sejam alinhados e que aqueles que necessitarem de ajuda a recebam de forma adequada. Esse aspecto está relacionado ao desenvolvimento das habilidades sociais de toda a equipe e envolve, além dos aspectos de feedback e comunicação, a assertividade e a empatia. 
Considerações finais 
Enquanto uma ocorrência natural do organismo que o prepara para agir, o ponto importante ao lidar com o stress é o manejo que se faz dele. Compete ao indivíduo, à organização e aos profissionais da saúde observarem e implementarem ações que propiciem qualidade de vida, seja no nível individual ou no organizacional. 
As informações sobre o stress ou as estratégias para lidar com ele não foram esgotadas aqui. Elas devem ser desenvolvidas considerando-se a cultura e particularidades de cada organização, visando sempre o bem estar dos envolvidos nos processos que a mantém. 
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